sábado, 25 de abril de 2009

Homenagem à memória de JOAQUIM DA SILVA SOUSA

Excerto retirado do livro "Memórias de um Combatente".

Trabalho publicado em livro pelo nosso companheiro
Joaquim da Silva Sousa, recentemente desaparecido.

Nasceu a 25 de Fevereiro de 1950, em Fazendas de Almeirim.

Mobilizado para Angola: 22 de Maio de 1972.

O 1º Cabo SOUSA preparava a edição deste livro
quando foi surpreendido pela morte.
Em cerimónia simples, mas carregada de emoção e significado,
este livro foi apresentado no último encontro da
C.Caç 3441 e publicado por determinação dos filhos.

Na impossibilidade de lhe prestar melhor homenagem,
transcrevo o I Canto da lírica de J. S. Sousa

MEMÓRIAS DE UM COMBATENTE
Canto I

22 de Maio de 1972.
1

Que sofrimento meu Deus ser pai de dois rebentos
Que eu amo tanto e vou ter que deixar,
Ao mando de um governo que me vai fazer lutar,
Cegos pelo poder, e de conservadores sedentos,
De um Portugal que está para além do mar.

2

Mas que mal fiz eu oh Deus tu fala-me!
Se eu em ti confio do teu amor careço,
Se for obrigado a matar quem nem conheço!
E não me fez mal algum, então tu cala-me,
Pois isto seria castigo que eu de ti não mereço.

3

Pois quem defende aquilo que é seu
Que condenação lhe estão movendo?
Diz-me tu, porque eu não estou sabendo!
Que o mesmo eu faria pelo que é meu,
Assim me ensinaste e eu assim o entendo.

4

E que culpa é que têm duas filhas que deixo?
Que vão passar mal sem necessidade nenhuma,
Mas que história é esta que à guerra me ruma?
Que só por amor a elas deste mal eu me queixo,
Que vejo a minha vontade sem vida nenhuma.

5

Angola, que para tão longe me levas,
Deixando os amores de mulher e filhos,
Com este mandar que me tira dos trilhos,
Que uma arma me dão para mandar ás trevas
A quem não quiser andar por antigos carrilhos.

6

Mas que mal eu fiz? Quem me fez mal?
E contra quem é que eu vou lutar?
Mas quem é que me fez mal para eu ter de matar?
Que me estás tu a fazer oh meu Portugal,
Que me ordenas a morte em vez de amar.

7

Porque não divulgas aos teus filhos a razão,
A razão de fazeres do africano o filho enteado?
Que português se tornou após colonizado,
Para que de ti fosse filho e de mim irmão,
E hoje ainda ser de ti escravo alforriado.

8

E com que mentiras é que nos manténs
Ás glórias de séculos que este povo fez?
E que altares prometes tu ao povo português.
Para deixar mulheres, filhos, pais e mães,
Que só depois na ausência quer saber os porquês.

9

Como eu hoje pergunto pedindo a verdade
Que sabendo isto pela história alguma vontade
Através dos séculos o conquistar deste povo,
Mas, se já em tempos de reis se fez um Brasil feliz,
Porque se não faz de cada colónia outro país?

10

Não vos fazei de burro o já velho estado novo,
Para não dares mais mortes a tantos inocentes,
E ainda nos dares mais miséria, aquilo que já se vê!
Nem sufoques mais lá e cá as nossas gentes
Que por ti se sentem escravos ainda sem saber porquê.

J.S. Sousa

3 comentários:

Egidio Cardoso disse...

O Sousa juntou-se à Companhia 6 meses depois, quando as areias do Cuando Cubango já eram nossas conhecidas e o cacimbo tomara conta do território após enxotar as chuvas diluvianas que nos haviam recebido.
Levou-o ali uma missão importante - ser o padeiro da companhia.
Era um bom homem. O pão não era grande coisa, mas creio que o defeito era da farinha.
O padeiro surpreendeu-me. Nunca o julguei capaz de versejar. A sua obra literária, publicada a título póstumo pelos filhos, contém pormenores da nossa saga por terras africanas que constituem um reavivar de recordações, perpetuando tempos idos.
Bem hajas, Sousa. A gente um dia vê-se.

E. Cardoso

Unknown disse...

Saudades me deixou a mim e as minhas irmãs !! A minha mãe ; mas mando lhe um grande beijo e um abraço a todos os amigos dele ,,,, amo te pai

Lucia Gama disse...

Pai k tão cedo partiste deixando tua família para traz chorando recordo-te sem fim agora vendo-te em foto enmarcada com a força de k vou ser capaz de vencer ao lado de tua amada.
Sentimos-te cada dia sempre junto de nos mas tudo o k mais queria era ouvir de novo tia voz... saudade