terça-feira, 6 de maio de 2014

MATARAM O BACALHAU

Ensaiei diversos títulos e nem sei se este será o mais adequado. O facto é que o Bacalhau morreu. Como diz o brasileiro, morreu de morte matada, com estrondo, de tal forma que foi notícia de primeira página nos jornais de ontem e de hoje.
É verdade meus amigos, o Virgílio Cabral, o nosso Bacalhau, depois de ter vivido a vida da forma que escolheu e que quis, foi brutalmente assassinado. Depois de uma vida ao volante de um táxi pelas noites lisboetas, acabou por morrer em sua casa, apunhalado, sem que se saiba bem porquê e por quem.
Pode censurar-se o seu comportamento e a forma como levava a vida. Mas era um dos nossos e como tal será sempre recordado, sem recriminações.
Ficarão para a história, certamente, todas as suas bizarrias, o seu desenrascanço, a imaginação fértil que o levava a desencantar as formas mais inesperadas de arranjar uns dinheiros extra, sempre com umas pinceladas de desonestidade quase inofensiva de que, sem pudor, fazia alarde.
O Bacalhau nunca fez mal a ninguém, que se saiba. Estou capaz de apostar que não merecia sair deste mundo sem sequer se despedir. Não deixaram. Não lhe deram hipótese.
Descansa em paz.

2 comentários:

Pedro Cabrita disse...

Um fim trágico para o nosso companheiro Virgílio Cabral.

Em busca de um retrato que melhor confira com o nosso Virgílio só me vem aos sentidos a "Crónica dos Bons Malandros" do Mário Zambujal.

Era na verdade um bom malandro no sentido exacto com que o Zambujal coloriu as suas personagens.
Do fluxo esbatido de imagens que dele ainda guardo, sobrepõe-se a de um jovem sempre bem disposto, desenrascado, ou desenrascando-se pelas veredas da vida, sem ir além duma certa linha ou limite de desconsideração pelos companheiros.

Recordo agora com a nostalgia de sempre os dias infindos que o Cabral levou (sentado e à sombra...) no arranjo da célebre motobomba, que não tinha já ponta por onde se lhe pegar.
Entretanto o Gabriel Costa lá repartia os desconcertos das Berlliets (ao sol...) pelos restantes mecânicos...
A personalidade do V. Cabral podia até retratar-se numa finta que ele inventou no futebol (rodopiando sobre si mesmo e sobre a bola que conduzia em velocidade), uma autêntica aldrabice desportiva com que enganava os adversários e por vezes até os companheiros...

É a vida..., embora este não tivesse sido certamente o fim com que ele desejaria fechar o seu ciclo.
Foi com mágoa que dei pela notícia.
Provavelmente um dia a gente vê-se, Virgílio.

Um abraço

P.C.

PS
Agradeço aos companheiros que me telefonaram a dar a notícia.

Anónimo disse...

7/5/2014 - Foi com profunda magoa, que tomei conhecimento da morte do nosso " bacalhau ", como era conhecido entre nós, por parte de dois ex companheiros de vivência Africana e amigos do nosso malogrado Virgilio.
Posteriormente li a notícia nos josnais e confesso que concordo com a opinião do nosso amigo Cabrita.
Ainda recentemente, falei com o nosso Virgilio Cabral ao telefone na sequência dos telefonemas que tenho efetuado junto dos nossos amigos da Companhia de Caçadores 3441, no sentido de saber da sua disponibilidade para o nosso convivio anual.
Após os cumprimentos habituais, me " disse que viria e que seriam duas pessoas", corrigindo ainda o seu endereço que na nossa relação estava incorreto.
Enviei lhe no dia 28 de Abril o convite do nosso convivio, como já o fizera aos restantes amigos.
Ainda gracejei com ele perguntando lhe " Oh bacalhau,continuas a ser maroto
com as mãos e com os pés??? "
Ele retorquiu me gracejando, " já estou a ficar velhote ".
Virgilio, fica gravado na minha mente as palavras que trocamos e acredito que todos nós, amigos e ex camaradas que contigo
conviveram guardarão de forma carinhosa, as brincadeiras e as malandrices que adoravas por em prática. Descansa em paz e até um dia. Figueiredo Pinto